Júlia Muto - Jacarés em Nova Iorque

Um texto deeeeee: Júlia Muto!! Palmas pra ela gente!! A vencedora do concurso!! (Mentiraaa que não teve concurso nenhum! É só porque ela escreve bem mesmo,HUNF! E Flávia, eu ainda quero um texto seu aqui viu??!)
twitter: twitter.com/JuliaMuto
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Jacarés em Nova Iorque
Era uma vez uma família desesperada. “Porque eles estavam desesperados?”, você deve estar se perguntando. Pelo motivo mais óbvio do mundo, que leva pais do mundo inteiro a se desesperarem em shoppings, supermercados ou qualquer local público: eles perderam algo importante. “O que eles perderam?”, você deve estar se perguntando agora, ao invés de “Porque eles estavam desesperados?”. Eles perderam a filha. Bom, acontece nas melhores famílias, você se vira pra ver aquela estranha senhora em trajes verde-limão, e quando olha de novo, PUF! A menina sumiu.
Mas esses pais estavam mais desesperados do que os pais que perdem filhos em supermercados, e com razão. “Porque eles estavam mais desesperados do que os outros pais?” é uma questão que passa pela sua mente. Eles estavam desesperadíssimos porque perderam a filha em um lugar que não tem balcão de informações. “Mas que lugar é esse?”, você pensa, irritado.
É a quinta avenida.
“Pra quê a pausa dramática?”, você até desiste de perguntar, pois sabe que a resposta vem a seguir.
A quinta avenida é um lugar terrível para perder uma criancinha.”Porque o narrador não consegue escrever uma frase clara e sucinta?”, você pergunta (se é para si mesmo ou para mim, nem você sabe). Lá, o maior medo de pais distraídos é que seus filhos caiam em um esgoto e sejam comidos por jacarés sujos e resistentes à doenças perigosamente contagiosas que, de inocentes, nada tem.
“Por que jacarés?”, você, caro leitor indignado, prestes a rasgar essa folha de papel (se é que você está lendo isso numa folha de papel) no meio, indaga. O motivo é simples.
Em um passado não muito distante, um nova-iorquino com um senso de humor questionável espalhou para seus amigos (que também tinham um senso de humor duvidoso) a falsa noticia de que alguns filhotes de jacaré trazidos da Flórida para a Grande Maçã (talvez para testar se jacarés poderiam ser vegetarianos) foram abandonados nos esgotos da cidade quando deixaram de ser inocentes (e não viraram vegetarianos, como esperado) e cresceram assutadoramente, atacando qualquer ser ignorante que decidiu andar por entre as galerias sem saber lidar com répteis ferozes.
Esses amigos espalharam para amigos, que espalharam para outros amigos, e, assim, milagrosamente, se você, leitor cansado, considerar o número de habitantes de Nova Iorque, todo mundo ficou sabendo dos crocodilos anti-higiênicos.
“Achei que fossem jacarés, não crocodilos”, você pensa consigo mesmo (ou com seus amigos imaginários, ou comigo). Como a maioria da população não sabe a diferença entre jacarés e crocodilos, e os dois são igualmente terríveis, a história tem várias versões, nenhuma delas muito feliz (ou realista).
“Essa história não era sobre uma menina?”. Só agora você se lembra da pobre menina, leitor cansado, indignado e agora, distraído? Sim, a história começou contando a história desesperadora dos pais desesperados que perderam a filha, que devia estar desesperada quando percebeu que seus pais não estavam atrás dela, falando sobre o preço da gasolina.
“Então? E a menina?”, pensa você, leitor desesperado. Ela foi encontrada cinco minutos depois, infernizando um vendedor de cachorros-quentes.