Tragédia sem sentido

Couro Cinza - De André de Jesus Torres

Botas velhas e enferrujadas. Ela não subia mais as escadas porque estava muito cansada. Vaga noção da tragédia diária de quartas-feiras tortas que fazem sem lógica e sem razão as pessoas vagar pelo espaço em busca de perguntas sem solução. Entrou pela porta como se fosse máquina fria sem emoção. Olhou para os lados procurando um horizonte, mas não encontrou nada além de paredes e mais paredes. Superou cada uma como se fosse à última, mas nunca chegou perto do fim. Olhou para trás imaginando um futuro diferente do que viveu na manhã anterior. Quando não tinha mais forças para suportar a dor, sucumbiu. Entregou-se ao acaso colocando seu destino nas mãos de ninguém. Mergulhou lentamente no buraco infinito...
Corria. Corria sem rumo pelos corredores largos fugindo da prisão onde o tempo não passava, ou demorava a passar. Fechou os olhos.
Agora era apenas um par de botas velhas e enferrujadas, sentada na beira da cama admirando o amanhecer esperando o seu dia entrar pela porta. Mas esse dia nunca chegaria. Nunca chegou. Nunca.